quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Me Mira, la Muerte (Crítica: Volver / 2006)

“Guardo escondida uma esperança humilde, que é toda a fortuna do meu coração.”



Não sei como as pessoas reagiriam a uma opinião um tanto radical, mas acredito que não existem diretores tão talentosos, em atividade, como Lars Von Trier e Pedro Almodóvar. Dois diretores europeus que enfileiram obra prima atrás de obra prima. Lars com o seu recente Melancolia (2011) provou que, por mais que fale merda, é um gênio inquestionável. Não tem medo de ousar e mesclar ficção com os maiores medos e segredos do ser humano. Já Almodóvar encabeça a lista do melhor filme da década, o esplendoroso Fale com Ela. Também é dele genialidades como Tudo Sobre Minha Mãe (1999), Carne Trêmula (1997) e Má Educação (2004). Após quatro trabalhos consecutivos, em que presenteia o mundo com exímias obras de criatividade inesgotável, Almodóvar escreveu e dirigiu Volver (Espanha, 2006).

É incrível como bastam dois minutos de projeção para reconhecer um trabalho de Almodóvar, e isso não tem nada a ver com repetições, muito pelo contrário. Almodóvar é conhecido por ser um dos, senão o mais, brilhante diretor em exercício pela sua criatividade, pela plástica visual de seus filmes (talvez esse seja o fator maior de reconhecimento), pelo potencial infindável de eleger tramas e subtramas tão interessantes e encadeadoras de uma complexidade e um charme único.



Volver está longe de ser seu melhor trabalho, mas mesmo assim pode receber a alcunha de indispensável. Para filmar a película, Almodóvar voltou às raízes de uma Espanha estritamente rural, em que apresenta para o público o choque de mentalidades tomadas por superstições com a mentalidade uma Madri explodindo modernidade. O diretor voltou também a focar no universo feminino, na reação da mulher como força motriz de diversas situações inusitáveis, como a morte e o crime. Os homens não merecem nem um terceiro plano, são totalmente excluídos e só aparecem para dar fomento a complexidade do universo feminino, construído com muito bom humor e delicadeza pelo diretor espanhol.

Tente fazer a sinopse de um filme “Almodovariano” e veja como é quase impossível. Isso se deve a quantidade de curvas e portas do roteiro, quando você acha que tudo pode perder o sentido, o diretor tira uma carta na manga e te bota de joelhos em frente a sua película.

Volver envolve drama e comédia, recheada com uma boa dose de humor negro, mas de uma delicadeza insuperável. O filme conta a história de duas irmãs: Raimunda (Penélope Cruz) e Sole (Lola Dueñas). A primeira é uma mãe de família belíssima, que dá duro pra manter a filha Paula e o marido desempregado. A segunda mantém um salão de cabeleireiro ilegal dentro de casa e foi abandonada pelo marido. Em comum, as duas deixaram o vilarejo La Mancha, no inteiror da Espanha, e foram viver em Madri, além disso, perderam os pais num incêndio nesse mesmo vilarejo.



Atente ao fato de que Volver (no português, voltar) toca a todo o momento na questão da morte, em como ela é passado, presente e futuro. A morte também rondará as duas irmãs, Raimunda precisa esconder o corpo do marido Paco, o qual a filha matou após uma tentativa de abuso sexual. Sole convive com o aparecimento repentino do fantasma da mãe Irene (Carmen Maura, que volta a fazer uma brilhante colaboração com o diretor espanhol), após o falecimento de sua tia Paula, no antigo vilarejo, lugar que simbolizará a morte e os fantasmas da vida dessas irmãs. Uma esconderá da outra e se tornarão segredos escondidos no coração de cada uma. Junto a essa trama, surge Agustina (Branca Portillo), uma mulher sozinha, que após o falecimento de Tia Paula, descobre que foi acometida por um câncer e como última ação, deseja encontrar a mãe que sumiu na mesma data do incêndio que vitimou Irene e o marido. Perceba como a morte enfrenta os personagens, botando-os a todo instante de cara com o passado. Por que o passado? A película de Almodóvar é uma agulha que pica a gente durante todo o filme, a morte está parada em todos os cantos, a qualquer momento ela pode olhar diretamente nos seus olhos e te levar embora. Como a Irene fantasma, que “volta” para pedir perdão a filha Raimunda por seus olhos cegos do passado. A morte é como um moinho movido pelo vento de La Mancha.

É incrível a capacidade que Almodóvar tem de levar o filme por um caminho e de repente fazer uma curva brusca e direcionar a obra para outro caminho. O espectador não se perde, se mantém atento a cada salto de seu roteiro genial, a cada sutileza colocada em destaque em dado momento do filme, se delicia com os tons quentes envolvendo as ainda mais quentes mulheres latinas. O vermelho e o verde nos lembram a pimenta, e é tudo o que essa história é, uma dose apimentada de calor humano aos nossos olhos, ouvidos e alma.



Penélope Cruz, que antes de ganhar seu Oscar por Vicky Cristina Barcelona(2008), de Woody Allen, era muito criticada por qualquer papel que fizesse em território ianque. Eu hei de concordar com a maioria, acredito que a barreira da língua seja um obstáculo intrasponível para Penélope, mesmo no aug3e de sua beleza e talento. Nunca você verá a sensualidade e o brilho dos olhos dessa fascinante atriz em filmes que ela não fale sua língua materna, até mesmo no aclamado filme de Allen, onde ela também apela para um inglês carregadíssimo do sotaque madrilenho. Penélope brilha do começo ao fim do filme, desde o instante em que recolhe a arma do crime na cena, digamos que, hitchcockniana do assassinato do marido e a lava com uma câmera vinda do alto, valorizando seu belo busto. Penélope está quente, uma leoa, abandonada pelo parceiro, e protegendo sua cria. Como Allen fez com Diane Keaton em Annie Hall, Almodóvar faz uma linda declaração de amor a Penélope com Volver, com direito a uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz, o primeiro de uma atriz espanhola.



Porém, havemos de concordar que Cruz não é nenhuma Meryl Streep, e não teria potencial nenhum para carregar o filme nas costas. É por isso que há volta de Penélope se encontram atrizes tão grandiosas quanto ela. Carmen Maura, que depois de Mulheres À Beira de Um Ataque de Nervos (1988), não tinha feito mais nada com Almodóvar, volta brilhante e seduzindo o espectador com suas cômicas aparições e desaparições. Branca Portillo num papel muito difícil não dá chances ao algoz, mergulha na fragilidade da personagem e entrega uma atuação digna de Oscar. Cannes premiou o elenco de Volver pelo conjunto. Merecidíssimo.



Almodóvar mostra que a narrativa não está em queda no Cinema, o negócio é saber usá-la ao seu favor. O diretor mergulha num universo do qual tem extremo conhecimento, mas não vivência, nem por isso a vida de sua obra se pareça menos luminosa ou um tanto caída, o diretor sabe como compensar isso. Pedro Almodóvar seduz o espectador apenas devotando suas esplendorosas personagens e intérpretes. O resultado é um trabalho genial, dotado de sentidos e marcas tão características do diretor. Pela sua generosidade, Almodóvar deixou que suas atrizes fizessem todo o balé e imprimissem a fortaleza da mulher em sua obra.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Tinha Que Ser Você (Crítica: Noivo Neurótico, Noiva Nervosa / 1977)

"O amor é uma palavra muito fraca para definir o que eu sinto"



Sobre o filme a ser resenhado hoje eu quero dar vazão a dois principais aspectos: primeiro, é uma aula magnífica de Cinema, de experimentalismo, de inovação e ousadia; segundo, existem dois grandes filmes que abordam toda a especificidade dos relacionamentos amorosos como nenhum outro, aqueles que tocam na ferida aberta ou fechada e que te levam a um mar de reflexão inabitável, em que você é você mesmo no mais alto grau de crueza, despindo todas as dúvidas perante nossos olhos. O primeiro é um drama, trata-se do maravilhoso Closer – Perto Demais (2004), do gênio Mike Nichols, filme que traz, além de um elenco estelar afiadíssimo, uma nova roupagem a promiscuidade e realidade dos casos amorosos. O segundo não fica longe, é outro trabalho magnífico de outro gênio do Cinema, e assustadoramente trata-se de uma comédia romântica. É o clássico dos clássicos de Woody Allen, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall. EUA, 1977).

Você já parou pra pensar quando foi que o Cinema começou a inovar nas formas de se fazer um filme? Você deve imaginar que o Cinema não foi o que ele é hoje desde sempre. Por exemplo, em 1977 não era comum criar histórias que não seguissem a lógica do tempo, tampouco, a linearidade era regra, mas também não era usada (ou ousada). Por isso, o clássico de Woody Allen se tornou tão atual e expressivo em qualquer época do século. Ele ousa, sem deixar o espectador perdido, ele inova, sem que o espectador perceba, ele filma, sem que o espectador se preocupe.



Annie Hall, título original do filme, começa com o personagem de Woody Allen, Alvy Singer, num momento de reflexão, em que tenta desvendar as causas do fim de seu namoro com Annie (Dianne Keaton, linda). “Annie e eu terminamos, e eu não consegui tirar isso da minha cabeça”, é dessa forma que a obra começa e, a partir daí, veremos do começo ao fim tudo o que acometeu o casal.

Alvy, um judeu e comediante meramente famoso, é um cara neurótico, obsessivo, apaixonado por mulheres e por Nova York (é o mesmo personagem de Manhattan numa situação diferente), a crítica especializada diz que é o próprio Allen montando sua cinebiografia. O cara é crítico com as maiores besteiras do dia a dia, tagarela ao extremo, porém, todo o seu charme habita na sua ansiedade mesclada com sua impulsividade hipócrita. Annie Hall é quase que o oposto de Singer, uma cantora de bar, meio amalucada, e que só faz sexo depois de fumar maconha. O que esses dois tinham em comum? O que poderia dar certo nesse meio? A resposta? Um filme. Um grande filme.




Como já disse, Woody Allen quebra com todas as regras supostamente ditadas para filmar seu clássico. O tempo vai e volta sem nenhuma obrigação com as personagens, que entram e saem do filme e logo são esquecidas. Numa das cenas mais hilárias da obra, Annie e Alvy estão na fila do cinema, enquanto um metido a intelectual logo atrás deles bombardeia a companheira com as teorias do filósofo da comunicação de massa, Marshall McLuhan. Irritado, Alvy, sai da fila e detrás de um cartaz, ele puxa o próprio McLuhan pra dizer ao tal sujeito que ele não entendeu nada do que ele escreveu. Quando que no cinema nós teríamos uma interferência tão grande da realidade? Como que seria possível dar credibilidade a esse tipo de roteiro? Simples. Tudo se encaixa perfeitamente. Allen ironiza o próprio relacionamento e a forma como ele deduz que tudo pode ter dado errado.

Outras inovações também são muito pertinentes, como os momentos em que o personagem de Allen fala diretamente com o espectador, tentando explicitar algum ponto que possa ser menosprezado, ou então, nos momentos em que Annie e Alvy voltam em cenas do passado e começam a analisar, de corpo presente, as atitudes de cada um. Allen interfere de forma sublime na força narrativa do Cinema. Não impõe nada, sugere, experimenta e ganha nada mais nada menos que 4 Oscar nas principais categorias. A academia surpreendeu e foi surpreendida. Uma obra de comédia que leva o Oscar de Melhor Filme, Diretor e Roteiro é uma “transgressão” e tanto.



Quanto ao relacionamento do casal e porque eu acho que este filme se tornou um exemplo fabuloso de obras que abordam os relacionamentos amorosos, fica difícil explicar. O casal formado por Keaton e Allen é único, mas ao mesmo tempo muito próximo. O ritmo acelerado que o diretor conseguiu imprimir aos personagens e a narrativa faz com que a gente delicie essa obra quase que sem outra opção. Quando me dei conta o filme tinha acabado, minha opinião formada e, infelizmente (ou felizmente), inexplicável.




Annie Hall parece ser a mulher que todo o homem quer do seu lado, créditos a Diane Keaton, que levou o Oscar de Melhor Atriz por encarnar essa subversiva dos relacionamentos e também da moda. O figurino da atriz, que é composto por gravatas e coletes, algo mais masculino, virou febre entre as americanas no fim da década de 70. Keaton está perfeita, consegue ser leve e real sem ultrapassar limite nenhum. Woody Allen compôs o mesmo cara de sempre, embora, esteja perfeito, não soma nada ao currículo dele como ator. É como ele é, e eu não consegui me desprender disso. Confesso que me cansei dele quando ele chegou em Los Angeles a procura de Annie.

Allen é conhecido por ter uma língua afiadíssima, por conseguir trabalhar com a ironia e as críticas principalmente nas falas de seus personagens e não no visual, que sim, nessa época não era uma de suas grandes preocupações. Noivo Neurótico, Noiva Nervosa está em ebulição de novas ideias, de ironias preparadas pra voar na cara do espectador, de bom humor escrachado e implícito, de dores, fracassos, amores e planos, mas, na verdade, não passa de um puta de um filme de um baixinho ácido e louco por jazz. Acima de tudo, Annie Hall é uma declaração de amor a Diane Keaton.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O Aroma que Habito (Crítica: Perfume: A História de um Assassino / 2006)

"E é nisto que se resume
o sofrimento:
cai a flor, — e deixa o perfume
no vento!".



Não sei nem por onde começar.

Após a insistência de uma pessoa (muito querida, por sinal), resolvi construir uma resenha crítica sobre Perfume – A História de um Assassino (The Story of a Murderer, Alemanha, França, Espanha. 2006). A minha resistência não tinha nada a ver com a qualidade da obra, que é inegável, muito menos com os possíveis defeitos que viesse a ter. Como disse Stanley Kubrick certa vez, Perfume era uma obra "infilmável", assim eu também consideraria um filme incriticável. Meu “medo” tem muito mais de impotência do que de entendimento. Não sei se dá pra entender, e é aqui que julgo o filme incriticável.

Perfume (é como eu vou me referir ao filme ao longo do texto) é baseado numa obra alemã de enorme sucesso, lançada na década de 1980 e traduzida para mais de 45 línguas. Patrick Suskind, autor do livro, relutou em vender os direitos de seu texto, graças a uma grande repulsa por adaptações cinematográficas. Em meio a isso, veio o interesse de grandes diretores, como Ridley Scott e Martin Scorsese. Porém, os direitos da obra só foram vendidos em 2001, quando caiu nas mãos de um diretor também alemão. Nesse momento, os fãs do best-seller comemoraram o fato da adaptação cinematográfica se manter em solo alemão.

A direção ficou por conta do talentosíssimo Tom Tykwer, responsável pelo grande sucesso Corra, Lola, Corra (1998). E nessa obra, podemos ver um lado totalmente distinto do que ele mostrou no seu grande feito. Aqui não veremos uma Franka Potente enlouquecida, correndo pelas vias da cidade, também não teremos explosão musical nem os cortes repentinos, pelo contrário, o filme se baseia numa estética muito mais subjetiva. O diretor teve que mudar muito do seu modo de dirigir, por isso se torna irreconhecível. A grande onda de sentimentos, quase que imperceptível aos olhos distraídos, é o grande trunfo dessa nova fase da carreira do diretor, se assim eu posso chamá-la.



A história se passa na França do século 18, envolta na sujeira e fétida fumaça dos tempos da Revolução Industrial, na correria de um Capitalismo embrionário, que já mandava e desmandava sem nenhum tipo de consideração social. Num mercado de peixe, embaixo da banca de sua progenitora, nasce Jean-Baptiste Grenouille (Ben Wishaw). Completamente guiado a morte, o bebê encontra no seu dom, o olfato apuradíssimo, a chance de viver, senão ele seria mais um dos filhos da feirante, que seriam jogados no rio Sena. Quando começa a chorar, Grenouille chama a atenção dos transeuntes e tem a sua oportunidade de viver. A reconstrução de Paris é simplesmente belíssima: O bebê jogado as traças, cheio de sangue, em meio à explosão humana da cidade transformou-se numa cena épica. Voltando a narrativa, a mãe é condenada por abandono e enforcada em praça pública. Restou a Jean-Baptiste o orfanato, onde será escravizado e virará fonte da renda da senhora que o abriga. Durante toda a sua infância no orfanato, Grenouille estará focado nos cheiros e perfumes que o rodeiam, desde a grama molhada até a água fria. Tudo é motivo de parar, apreciar cada odor e memorizar essência por essência. Ainda criança, Grenouille torna-se uma criança reclusa e solitária, numa linguagem mais facilitada: Estranha.

Mais tarde, o jovem é vendido a um curtume de confecção de couro, assim que dá as costas a senhora do orfanato, ela é assassinada por ladrões em um dos becos de Paris. Nesse curtume, Grenouille trabalhará 16 horas por dia e vai se manter fiel a seu chefe. Até que numa das entregas de couro no centro da cidade, Grenouille sente o aroma que mudará sua vida. Perseguindo o cheiro de uma jovem garota parisiense, Grenouille acaba por matá-la acidentalmente e descobre que esse mesmo cheiro se esvai junto com o último sopro de vida da pessoa. Obcecado por descobrir como preservar os perfumes que o surpreendem, Grenouille encontra um perfumista em decadência, o italiano Giuseppe Baldini (interpretado com afetação pelo mestre Dustin Hoffman), que após presenciar a genialidade do jovem com os odores e, claro, visando seu próprio lucro, comprará Grenouille de seu chefe, que também morre assim que o jovem vai embora. Procurei em diversos lugares algum texto que me esclarecesse as mortes de seus antigos “tutores”, mas não encontrei nada. Achei estranho que todos morressem assim que Grenouille fosse embora de suas vidas. Bom, sozinho, cheguei à conclusão, que Grenouille era uma espécie de estabilizador da ordem. Sua esquisitice mantinha todos em alerta e quando eram “dispensados” da convivência diária com Grenouille, acabavam por relaxar em sua vigilância (permitam-me a viagem metafórica).



É com Baldini que Grenouille vai aprender dar nome aos odores, apesar de que, o jovem parece ser muito mais talentoso que o ancião decadente. Mesmo assim, no que Grenouille busca, capturar e guardar cheiros, não vai poder ser auxiliado pelo mestre Baldini. É nesse instante que Baldini explica para o jovem Jean-Baptiste a lenda das 13 essências. Segundo a fábula, a combinação de 13 aromas proporcionará a quem confeccioná-la todo o amor humano e uma multidão a seus pés, conquistando, então, o mundo. Pena que Baldini não possa ensinar nada a ele sobre isso. Então, Grenouille parte para Grasse, a capital dos perfumes na época.

Nessa primeira metade, a história se mantém concentrada no personagem principal, na sua fixação por novos odores e, principalmente, nos indícios que o transformarão num assassino frio e calculista, embora, para mim, se pareça muito inocente. A trama corre lentamente, sem pressa nenhuma de mostrar mais do que deve antes da hora.

No caminho para Grasse, Grenouille descobre a grande sacada da obra: Ele próprio não tem cheiro. E esse é o grande motivo de possuir um olfato tão apuradíssimo. Grenouille chega a Grasse tomado pela obsessão de criar um cheiro para si, totalmente baseado na lenda dos 13 aromas. É nesse momento que o jovem passa a matar mulheres e experimentar novos modos de capturar o cheiro delas. Treze mulheres é a quantidade exata que Grenouille precisa para “dominar” o mundo. Em nenhum momento da obra, (eu, pelo menos) consegui enxergar o protagonista como um assassino, nem senti tanta repulsa. Isso acontece graças a pouca exploração que se tem no âmbito das cenas de assassinato. As cenas impressas no filme são muito mais ligadas ao domínio da arte que Grenouille tenta expressar, aos métodos de tentativa de capturar os perfumes femininos. Sua frieza é quase que sentida através de nossas narinas, mas seus olhos não conseguem esconder a inocência de um menino.



Quando entra em cena a jovem Laura (a lindíssima Rachel Hurd-Wood), o filme ganha uma nova face, algo mais perto de um thriller psicológico. Essa jovem vai se tornar a maior obsessão de Grenouille, pois é ela a dona do décimo terceiro aroma de seu perfume. O filme só se torna clichê quando entra em cena o pai da jovem, interpretado pelo eterno Severo Snape, Alan Rickman. Atrás de solucionar os casos de assassinato, o pai de Laura busca por meio de métodos do Direito e da Lei e Ordem, encontrar o rapaz e prendê-lo, proporcionando algumas cenas desnecessárias em que juntam tribunais, juízes e investigação a uma multidão de homens amedrontados pelo assassino em série.

Bom, não vou me aprofundar mais na história da obra, senão vou soltar grandes spoillers (mais do que eu soltei é impossível). Porém, quero chamar a atenção para a magnífica tomada final da obra. A população de Grasse ensandecida pelo prazer fugaz proporcionado pelo perfume de Grenouille. Na mesma hora pensei em Lars Von Trier. Atenha-se a cena, que consegue fazer uma crítica generalizada em poucos minutos. Detalhe: É uma orgia de proporções gigantescas.



É fato que Grenouille se tornou um homem sem emoções, impossibilitado de amar e ser amado, e julgou que “roubando” a dádiva que era o perfume de cada um, ele poderia, enfim, ser notado. Porém, como eu já disse, o perfume é fugaz, evapora com a rapidez de um estalar de dedos, nada fica, cada átomo de cada gota é um mero passageiro do tempo. Pela sua incapacidade de pensar em outra coisa que não seja cheirar (peço o perdão pela dubiedade), a personagem não se vê impedida por qualquer tipo de limitação, seja ela física ou moral.

Tecnicamente, o filme tem mais qualidades que defeitos. Com uma direção de arte fabulosa, uma fotografia esplêndida e um elenco competente (embora quem mais fale seja o narrador, trabalho exímio de John Hurt), o filme consegue proporcionar uma belíssima experiência de sentidos. Os defeitos que citei são mais particulares do que um dever no mundo do Cinema. A trilha sonora me pareceu exagerada, insistente. Embora seja muito boa, falta silêncio, momentos de reflexão tanto dos personagens quanto do espectador. A longa duração do filme (2h30m) também me pareceu desnecessária tornando o filme pesado e cansativo em diversos momentos. No geral, erros que não comprometem o resultado final da obra.



Eu consigo vislumbrar o principal motivo desse filme ter me conquistado: A capacidade de passar para o espectador a sensação atribuída ao mais complexo dos sentidos. Sentir cheiro que lembre a infância, concentrar câmera nos poros do nariz do protagonista, levar o espectador a uma viagem pela imaginação do personagem é o que torna esse filme “infilmável”. Apesar de tudo, conseguimos nos encantar pelo ambíguo amor que Jean-Baptiste sentia por esse vento enfeitado de aromas.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A Bela da Tarde (Crítica: Bonequinha de Luxo / 1961)

Você não pode amar um selvagem, ele anseia pelo céu e, uma hora ou outra, te deixa.



Faltava um filme dela.

No ano em que Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany’s. EUA, 1961) comemora cinquenta anos, realmente não podia ficar faltando uma singela homenagem no Cinemática. Clássico dos clássicos, Bonequinha de Luxo figura entre os melhores filmes da década de 1960 e, sem dúvida, pode ser considerado o grande papel da carreira da belíssima Audrey Hepburn. Sim, na verdade, não foi por esse filme que Audrey conseguiu seu Oscar, ele veio bem antes com A Princesa e o Plebeu (1953), quando a atriz ainda engatinhava no mundo do Cinema. Mas, é com essa ode a mulher, que Audrey consegue mostrar tudo que é capaz de fazer: atuar com exímia qualidade, cantar, comover e fazer rir.

Para quem não sabe, inicialmente, o filme seria estrelado pela dama da década de 1960, Marilyn Monroe, que quando substituída por Audrey acabou criando-se uma inimizade pouco comentada entre as duas atrizes. A direção ficou por conta de Blake Edwards, mestre de comédias que beiram o tipo pastelão, mas que, mesmo assim, conseguem se configurar em ótimos filmes. Acredito que, além de Audrey, o grande mérito de Bonequinha de Luxo fica nas mãos de Edwards, que conseguiu transformar uma comédia romântica que tinha tudo pra ser fútil e piegas, numa verdadeira poesia que libera contornos de encantamento e inocência no mundo de uma bela mulher.

A história do filme é do célebre Truman Capote (que também já possui um ótimo filme biográfico). A obra de Capote é considerada um marco na literatura americana, assim como o filme se tornou um símbolo do cinema das terras de lá. Embora, Capote não tenha gostado da adaptação feita de sua obra, devido às grandes mudanças envolvendo o roteiro, o filme agradou em cheio tanto o público quanto a crítica especializada. Marilyn também havia sido cortada justamente por quererem transformar o filme numa coisa mais próxima a água e açúcar. Não quero nem pensar o que seria desse filme sem Audrey.



Audrey Hepburn
vai emprestar toda a sua elegância para Holly Golightly, uma jovem e linda mulher que vive em Nova York e espera num marido rico a grande chance de virar sua vida. Embora a personagem tenha sido bastante suavizada, pois no original ela continha traços de bissexualidade e promiscuidade (a realidade crua de Capote), a personagem do filme ainda se manteve como uma garota de programa, no caso, de luxo. Enquanto Holly impera no seu mundo sonhador, Paul Varjak (George Peppard) se muda para o apartamento do lado e logo os dois iniciam uma amizade. Ele é um escritor meio preguiçoso, sustentado por mulheres que o tem em troca, enquanto, Holly se mantém em sua saga.

O título do filme que traduzido literalmente seria algo como “Café da manhã na Tiffany’s” refere-se a grandiosa marca de jóias Tiffany’s, que é o lugar em que a personagem de Audrey procura esquecer dos problemas. Por mais que isso soe fútil, devemos tentar entender o mundo repleto de sonhos e inocência que rodeava Holly. Quando a amizade entre Holly e Paul (“Fred”) começa a se tornar mais intensa, tornando-se amor mútuo, a jovem se vê de frente com os seus próprios conceitos. Como ela abriria mão de sua liberdade por um amor? Ela iria agora viver dentro de uma gaiola novamente? Estaria, então, fadada a uma vida sem graça, repleta de amor, amor e amor?



A metáfora do nome do gato se constitui numa das mais belas jogadas do texto de Capote. Holly simplesmente chama o gato de “gato”. Segundo ela, o gato é como ela: não sabe quem é, não sabe qual sua função dentro do mundo, resta a ela viver de acordo com seus preceitos, assim como o gato. A história de amor entre Holly e Paul não é tão incomum. Paul é a válvula motorizada que vai impulsionar Holly a acreditar nessas coisas simples da vida. Holly ainda que tentada a vencer na vida, só se entrega a ele nos últimos três minutos de filme. Aliás a cena final é angustiante, desde as falas ao choro compulsivo e (acredite se quiser) contido de Holly.

Com um tema ainda que vanguardista: a mulher que quer casar por dinheiro e se tornar visível à custa do mesmo, a personagem tem suas aspirações. Holly não que ser uma dona de casa e viver em função do marido, em pleno ano de 1961 já é possível ver uma mulher em busca de sua autonomia sentimental, de sua existência em função de seus gostos e suas vontades. A cena em que você vê o tamanho grau de complexidade da personagem é muito doce. Sentada na sua janela com seu violão, Holly canta a belíssima “Moon River”, tomada pelo seu ar sonhador, pela sua beleza estonteante e pelo rapaz que espia a jovem com encantamento. Holly não é prendada aos afazeres domésticos, o apartamento vive virado de pernas para o ar, mas isso não impede a feminilidade da personagem,que é, talvez, a característica mais forte da personagem.



Se eu pudesse definir Hepburn em apenas uma palavra seria beleza. Não só a beleza física, mas a beleza da voz, a beleza da menina sapeca que pula de um sofá pro outro, que senta dentro da pia, a beleza da mulher em seu “pretinho básico”, a beleza de seus passos e a beleza de seu choro. Sem dúvida nenhuma, esse é o papel que transformou Audrey no mito que ela é hoje. É a consagração de uma atriz já consagrada. Audrey foi indicada ao Oscar pelo papel, mas perdeu pra Julie Andrews.



Bonequinha de Luxo não tem nada de muito surpreendente, o final é previsível (mesmo que se configure numa linda cena), alguns personagens são dispensáveis (como o vizinho oriental que aparece em mais cenas do que realmente é necessário). Mas, ainda assim, o filme é quase que impecável, irretocável, e tendo passado cinquenta anos, ele continua sendo obrigatório pra qualquer fã de cinema. Audrey falando em português gera tanto carinho pela atriz, que é impossível colocar em palavras. Aliás, eu só não perdoo Edwards e Capote, por não terem trazido Audrey para o Brasil, literalmente.

A classe e o charme dessa obra está definitivamente marcada na história de quem o assiste.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Por fora, nem o chão. (Crítica: Interiores / 1978)

Nunca houve espaço para sentimentos verdadeiros. Entre nenhum de nós. Nenhum.



A primeira obra do mestre Woody Allen a ser resenhada pelo Cinemática, não estará entre seus principais trabalhos, tampouco será parte de sua essência no Cinema. Bastante amado pelo seu tipo de humor instigante e inteligente, pelo desfile de suas musas inspiradoras na tela, o filme escolhido vai passar longe disso. Tem humor? Tem, mas um humor que pende mais para o lado da claustrofobia. Tem musa? Tem, sem nenhum apelo a vaidade, que é totalmente deixada de lado. A obra caminha por um lado pouco explorado pelo diretor.

Escrito e dirigido por Woody Allen, Interiores (Interiors, EUA. 1978) é, talvez, uma das obras mais depressivas da carreira do renomado diretor. Ele ainda usa de todos os seus truques e genialidades, mas, ainda assim, a obra se configura como sendo uma válvula de escape dentro da sua longa caminhada cinematográfica.



Interiores trata de família, trata de perdas e de como reagir a elas, fala de falso abandono na infância, cutuca na ferida dos irmãos potencialistas e dos mais “normais”, é um ode à solidão rodeada por pessoas. Allen escreve um roteiro que aborda de maneira minuciosa às questões de mais apelo na vida da família norte-americana conservadora da década de setenta. Corriqueiras questões como a preferência por um dos filhos, ou a aparente depressão pronta pra explodir, servem de mote para a decadência de uma família.

Claramente inspirado no estilo Bergman de se fazer cinema, Woody Allen fez de um de seus primeiros dramas um verdadeiro achado da carreira desse cultuadíssimo diretor.

Centralmente, Interiores trata do desmantelamento das relações afetivas de uma família. Tudo começa quando Arthur (E. G. Marshall) resolve se separar da mulher, Eve (Geraldine Page, saudosa e grandiosa como sempre). O casal não é o ponto central do filme. A narrativa se concentra nas atitudes, fracassos e traumas das três filhas desse casal: Renata (Diane Keaton, uma das grandes musas de Allen), Joey (Mary Beth Hurt, muito boa, por sinal) e Flyn (Kristin Griffith).



A palavra interior, que de alguma forma, dá título ao filme, cabe mais do que uma metáfora. Os interiores ganham vida, a casa que costumava ser decorada com árvore de natal, vasos caríssimos, atribuídos principalmente ao bom gosto da matriarca, passa a ser basicamente simples: mesas brancas, com cadeiras cruas, paredes limpas, taças reluzentes, tudo no tom de “bege e terra” . Durante o processo de demência da mãe, devido à separação conjugal, as filhas se revezam em suas angustiantes vidas para dar apoio a mesma. Renata é uma escritora talentosíssima que sofre com a síndrome de inferioridade do marido e com a inveja de Joey, esta ainda não descobriu sua verdadeira vocação e só tem como ponto de apoio, a preferência do pai, Flyn é objeto de desejo do marido de Renata e uma atriz fracassada. Repare: sem nenhuma estrutura social e interna, essas mulheres devem restabelecer os interiores da própria família, aliás, a palavra “própria” entra o tempo todo no texto de Allen.

Tudo se complica quando Arthur encontra uma nova companheira, Pearl (Maureen Stapleton, radiante). A mulher, que dá um novo sopro de vida ao rico empresário burguês, é também responsável por toda a tragédia (ou não) que vai acontecer na história. A ideia de uma separação revogável cai por terra e a situação se torna mais difícil de lidar.

Contudo, a história deve ser mantida com várias interrogações, não quero estragar o prazer que espero que todos tenham ao ver esse filme único de Allen.



Partimos então para algumas características da obra. Primeiro: a falta de trilha sonora, e isso, a gente só se dá conta no final do filme. Allen dá preferência aos diálogos permanentes, a fala jogada direto na cara do espectador. Não existem rodeios, você sabe na hora ou o silêncio se instala. Música é imperceptível ou quase inexistente. Segundo: as personagens incríveis que Allen conseguiu construir. Desde a seca Renata até a insana Joey, como da magnífica Eve até a gloriosa Pearl. As personagens se escondem do espectador, mas, ao mesmo tempo, pedem socorro, pedem auxílio nas causas que afundam suas respectivas vidas. Terceiro: o trabalho da direção de arte, que conseguiu acompanhar toda a melancolia da história, tanto nas roupas como nos cenários, nos dias nebulosos de praia e na depressão latente das casas.

A típica família burguesa colide com seus próprios preceitos de sucesso tanto na vida profissional quanto na vida privada. Todos tentam ser manter ávidos em sua monotonia, elegantes na sua posição social, fortes no pensamento familiar, mas nada disso se configura, tudo vira um caos e pacificamente (entenda isso como a imobilidade das filhas) vai se ajeitando.



O filme foi reconhecido com cinco indicações ao Oscar. Além de diretor, foi indicado na categoria de Melhor Atriz, para Geraldine Page, e Atriz Coadjuvante para Maureen Stapleton. Page realmente é assombrosa, desde sua voz confundida com uma súplica infantil até seu olhar, enfeitado com uma forte olheira. A atriz que faleceu há mais de vinte anos, incorpora de maneira impressionante o sofrimento da mulher submissa e arrogante. Indefinível. Stapleton também faz jus a sua indicação, não deve ter sido fácil ser a única alma feliz no meio de tanto conflito psicológico.

Na interiorização de seus personagens, de sua história, de sua fase bergmaniana, Woody Allen escreveu e filmou uma pérola, até então, muito bem escondida por uma ostra feroz que insiste em comandar sua carreira.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Zombie (Crítica: The Walking Dead)



Finalmente chegou a vez da exceção: uma resenha crítica de uma série americana. Confesso que tenho bastante repulsa de séries televisivas feitas na terra do Tio Sam, talvez por ter que esperar por casa episódio, talvez por se basearem em roteiros fracos, talvez por escolher um elenco caricato, enfim (tiram-se desse bolo alguns bons atores que surgiram com séries, como é o caso do canastrão George Clooney). Então, minha vida se resumia a isso: assistir a séries americanas apenas se me causassem algum tipo de sentimento, ao contrário disso eu não chegava perto dessas produções.



Até que há um mês comecei a ouvir muito sobre The Walking Dead (EUA, 2010). Nos quatro cantos da cidade amigos falando que estavam assistindo a série, que estavam apostando na produção e que adoravam os zumbis. ZUMBIS? Alguém falou em zumbis? Pois é, agora eu posso revelar uma antiga “paixão”. Desde criança tenho fissura por mortos-vivos, acho que é a coisa que mais me dá medo, já que também é dos eventos da ficção o mais provável de acontecer. Entre o céu e a terra existem mais mistérios do que a gente pode imaginar, e nisso, se incluem os zumbis. Não vou ficar aqui falando sobre teorias apocalípticas de como surgiram as lendas de zumbi nem como elas se difundiram no mundo. Aposto na memória visual e na espinha dorsal de cada um. No fim, cheguei até Walking Dead. E posso te falar? Me diverti a beça.

A série é baseada numa HQ de muito sucesso em alguns pontos dos Estados Unidos e foi financiada pela AMC. No Brasil, Walking Dead é transmitido pela Fox. A produção tem seus acertos e um deles é o roteiro bem amarrado. Primeiramente, isso se deve ao envolvimento de Frank Darabont como um dos roteiristas da série. Darabont é diretor de alguns bons e ótimos filmes, como Um Sonho de Liberdade (1994) e À Espera de um Milagre (1999), os dois filmes são baseados em obras do gênio do terror Stephen King. Com Darabont circulando pela produção da série, já podíamos esperar grande qualidade no desenvolvimento da história. E não foi diferente.



Mesmo que adaptada de uma história em quadrinho, a adaptação para a televisão exigia mudanças na história original (alguns insistem que os quadrinhos são melhores). O grupo de pessoas que é centralizado dentro da história foi mantido, como algumas das tramas e outros detalhes menos importantes.

Rick Grames (Andrew Lincoln) é um policial que num certo dia do trabalho é baleado gravemente e entra em coma. Algum tempo depois, Grames desperta do coma e se depara com o mundo totalmente diferente. Os mortos se levantaram e estão matando todos os seres humanos. Como sabemos, todo humano mordido por um morto-vivo se torna um zumbi, e isso se torna um ciclo sem fim, até que todos os humanos se tornem mortos-vivos. Grames é o protagonista, que é acompanhado de perto por outros dois grandes papéis: Lori (Sarah Wayne Callies), mulher de Grames, e Shane (Jon Bernthal), o melhor amigo de Rick, também policial, que mantém um caso com Lori, quando da ausência do marido.



Quando Rick sai do hospital, encontra a cidade devastada, com milhares de zumbis vagando pelas ruas, sedentos por carne fresca. Rick, totalmente desorientado, sai em busca da mulher e do filho Carl (Chandler Riggs), que provavelmente num acesso de desespero fugiram da cidade. Basicamente, a história vai se desenrolar de forma surpreendente. Lori acreditando que o marido está morto vai fugir com Shane e é quando se forma o grupo principal da série: Andrea (Laurie Holden), Dale (Jeffrey DeMunn), Glenn (Steven Yeun), Carol (Melissa McBride), Sophia (Madison Lintz), T-Dog (Irone Singleton) e Daryl (Norman Reedus). Durante a primeira temporada alguns outros personagens se juntaram ao grupo, mas terão vida curta no que diz respeito ao segmento da obra. Porém, a história desse grupo só começa a ser mostrada ao espectador quando Rick finalmente os encontra após passar por um tremendo sufoco em Atlanta, onde encontrará alguns integrantes do grupo em missão.

No que tange à qualidade da série, uma crítica construtiva seria inegável e bem aceita em alguns pontos, como é o caso da escolha dos atores e, às vezes, a cansativa reviravolta do roteiro. Quanto ao roteiro, que sim, é muito bom, existem algumas falhas bobas, como por exemplo, a necessidade de dramatizar os personagens o tempo todo, levando a produção para um caminho parecido com Lost, confuso e desnecessário, mas que, no fim das contas, consegue voltar a respirar ares límpidos. Não que a humanização das personagens não seja importante, sem dúvida é. Mas não pode ser esquecido o principal motivo pelo qual eles estão ali: os zumbis, e por muitas vezes, eles acabam sendo deixados num segundo plano (na primeira temporada nem tanto, isso ocorre mais na segunda). Na minha concepção, os zumbis são os protagonistas, são as máquinas da série.



Segundo ponto, que acho que acontece muito pela dramatização do grupo, é a falta de carisma das personagens. Alguns não possuem carisma nenhum mesmo (vide os a maior parte do grupo) e outros são ruins mesmo, como é o caso de Andrew Lincoln e Jon Bernthal. Talvez pela pouca experiência com trabalhos fora da televisão, os dois atores pecam muito nas expressões faciais, nos olhares vagos, na cabeça que se mexe descontroladamente, no choro contido, no machismo latente e, principalmente, na fala dura. Parece que eles querem imitar alguém e não parecem à vontade em nenhum segundo da trama. Outros personagens sofrem com a falta de carisma, como Lori, Andrea e Carl. Talvez o maior achado seja realmente o jovem asiático Glenn, interpretado com tranqüilidade por Steven Yeun, e um pouco atrás vem o durão Daryl, que também não deixa a peteca cair.



O ápice da trama como todos já devem imaginar são os zumbis. Agressivos em todo o seu “debilóidismo” na forma de andar, de rosnar, eles são um capítulo a parte da produção. Realmente grandiosa, a obra consegue juntar uma multidão de mortos-vivos, em que podemos encontrar um zumbi mais assustador que o outro. E NUNCA, nunca um se parece com o outro. O trabalho da maquiagem da série é fantástico e provavelmente deve ter angariado muitos prêmios ao redor dos Estados Unidos.



A série é pura diversão. Mesmo que mexa com alguns temas que possam levar a discussões de gênero, sanidade, isso se torna muito superficial. À medida que os diretores tentam aprofundar esse tipo de discussão edificante, a série vai perdendo a qualidade, pois se torna laxativa e mórbida e acaba perdendo seu real sentido. Que venham as próximas temporadas dessa série que vem revolucionando a forma de se fazer televisão. Televisão com cara de Cinema.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Legítima Aborígene (Biografia: Nicole Kidman)

Não há drogas, nem Tom num traje, nem psiquiatras.



Os astros de Hollywood pagam um preço pra se manter visível aos projetos e iniciativas do Cinema, às vezes alto, outras vezes nem tanto. Geralmente, astros em decadência já possuem seu Oscar e sua grande atuação, então, são acometidos pela chamada “Maldição do Oscar”. Halle Berry é um exemplo fortíssimo do que eu quero dizer, após vencer o Oscar de 2002 (que nem foi tão merecido assim), a atriz nunca mais conseguiu se incluir num projeto com visibilidade, ou que lhe trouxesse alguns elogios da crítica especializada. Quem estava na mesma situação até alguns meses atrás era a talentosíssima e subestimada Nicole Kidman, que após ser premiada pela Academia, em 2003, a atriz só conseguiu sair da chamada maldição oito anos depois.

Por ser uma atriz pela qual tenho grande afeição, eu consegui acompanhar essa fase bastante conturbada na carreira de Kidman. A crítica não estava sendo rude, realmente, a atriz tinha dificuldades para se encontrar e estava se saindo medíocre em quase todos os seus papéis. Junto a isso, veio o problema do botox, que ainda persiste. Nicole exagerou na aplicação do produto na região dos olhos e da boca e perdeu quase toda a expressividade, que, sem dúvida, contribuíram para eclipsar sua imagem e carreira.



Ao contrário do que todo mundo pensa, Nicole não é australiana. Apesar de ter sido criada na Austrália, Kidman é norte-americana, nascida no Havaí, em 1967. Seus pais, sim, eram australianos. Aos três anos de idade, Nicole se muda para a Austrália e lá vai viver até começar a investir na carreira de atriz e se mudar novamente para os EUA, no fim da década de 1980.

Aos dez anos, Nicole já mostrava querer seguir a carreira de atriz. Após participar de algumas peças escolares, a jovem atriz começou a participar profissionalmente de algumas peças com mais visibilidade na Austrália. Com quinze anos, Kidman já participava de uma série de televisão. Não demorou muito e a jovem estrela já estava sendo requisitada no Cinema. Dona de uma beleza clássica e estonteante, que era somada com seu enorme talento, a atriz começou a se tornar popular dentro da indústria cinematográfica australiana. Não demoraria muito e Kidman estaria voando de volta para os EUA. O marco inicial de sua carreira mundial veio com dois prêmios de Melhor Atriz do Australian Film Institute, conquistados aos dezenove anos. Foi quando surgiu o convite para estrelar o filme Terror a Bordo (1989), no qual seria esposa do personagem de Sam Neil. A atriz foi aplaudida de pé e recebida de braços abertos pelo público norte-americano.



Morando em Hollywood já, surgiu o segundo trabalho de Kidman: Dias de Trovão (1990), foi nas filmagens dessa obra que Nicole conheceu o galã Tom Cruise, que viria a ser seu marido durante onze anos e que renderia algumas parcerias bastante festejadas dentro da indústria. Nicole Kidman vai até o final dos anos 1990 levando uma característica bastante diferente da atual, durante toda essa década, a atriz vai apostar na sua beleza e fazer filmes de todos os tipos, principalmente os mais comerciais, como Um Sonho Distante (1992) e Batman Eternamente (1995). Kidman vivia à sombra do marido Tom Cruise, o que não impediu que ela começasse a batalhar pela sua carreira. E seu principal papel dessa época, surge exatamente das vésperas do fim de seu casamento. O filme é De Olhos Bem Fechados (1999), no qual contracenou com Cruise (de longe, a melhor parceria). A última obra de Stanley Kubrick, drama psico-sexual, veio para trazer Nicole Kidman para o hall das grandes atrizes.

Do relacionamento com Tom Cruise, Nicole Kidman trouxe, além dos dois filhos, adotados ainda na década de 1990, a alcunha de mulher poderosa. Sim, a atriz que estava fadada a viver na sombra do ex-marido, conseguiu dar a volta por cima e mostrar que poderia montar uma carreira baseada não só na sua beleza, mas também no seu talento nato. E é justamente ao término do casamento, que se inicia a Belle Époque da atriz. A Época de ouro de Nicole Kidman tem cerca de três anos, um prazo curto, mas recheado das mais diferentes entregas que a triz pôde dar, desde uma incrível tradução de Vírginia Woolf até uma atormentada personagem de Lars Von Trier.



O reconhecimento mundial se iniciou em 2001, quando Kidman lança o suspense Os Outros, a primeira indicação ao Oscar viria no mesmo ano. Numa parceria inimaginável e surpreendente entre Nicole Kidman e Baz Luhrmann (diretor do longa), veio o musical Moulin Rouge - Amor em Vermelho (2001). A obra que faz uma releitura luxuosa dos anos de ouro da França, traz Kidman como Satine, dançarina e garota de programa da requisitada casa de shows e prostituição Moulin Rouge. A atriz acabou perdendo o Oscar para Halle Berry, que venceu pela histérica personagem de A Última Ceia (2001).



Alguns fãs fervorosos costumam dizer que Satine é o papel da carreira de Nicole Kidman, eu discordo. Mesmo entendendo a profundidade de Sabine e a importância da personagem na carreira da atriz, não consigo ver nada mais surpreendente do que a caracterização de Vírgina Woolf, pela atriz no filme de Stephen Daldry, As Horas (2002). Nicole está irreconhecível, tanto fisicamente quanto artisticamente, a densidade exigida para o papel até então nunca tinha sido vista quando se tratava de Nicole Kidman. É assustador, arrepiante e arrebatador o que a atriz consegue fazer em poucas cenas, em pensar que ela divide a posição de protagonista da trama com Meryl Streep e Julianne Moore. Pelo papel de As Horas, Nicole Kidman foi agraciada com uma estatueta do Oscar.

Ainda dentro da época de ouro da atriz, surgiram mais alguns importantes papéis, como a sofrida Grace de Dogville (2003) e a corajosa Ada de Cold Mountain (2003). E pode-se dizer que é em Cold Mountain que Nicole começará a descida transloucada de sua carreira. É o último papel em que a atriz vai mostrar sinais daquela época tão festejada pela crítica e pelos fãs. Em 2004, Nicole Kidman lança Mulheres Perfeitas e Reencarnação, produções mal-sucedidas dentro da indústria, mas que até então não tinham prejudicado tanto a solidez de sua carreira. Em 2005, se junta a Sean Penn e roda A Intérprete, que também passa despercebido pelo público. Daí, vem a lama que vai cobrir sua carreira durante cinco anos, e ela se chama A Feiticeira (2005). Nicole estava extasiada com seu Oscar e praticamente não recusava nenhum dos convites feitos para integrar qualquer elenco que fosse. Seu pior erro foi fazer A Feiticeira. Já sentindo todo o peso de não conseguir mais se destacar depois do Oscar, Nicole acreditou que seria uma aposta boa para atrair o olhar do grande público para o seu trabalho. O efeito foi totalmente o contrário, Nicole chafurdou na lama e foi crucificada pela crítica. Foi nesse momento, que surgiu a história da “Maldição do Oscar”. Segundo a crítica, Nicole estava fadada a continuar decepcionando em qualquer um de seus trabalhos e As Horas e Moulin Rouge tinham sido meras exceções de seu trabalho.



Determinada a mudar a visão que acabou criando para si, Nicole começou a apostar em todos os tipos de trabalho, quando devia sentar e analisar cada um deles. Aí veio uma série de erros, como A Pele (2006), cinebiografia da fotógrafa Diane Arbus; Invasores (2007), suspense alienígina de baixíssima qualidade; A Bússola de Ouro (2007), fantasia fracassada, Austrália (2008), considerado a pior atuação da carreira da atriz, o que foi um baque, já que Kidman acreditou que uma nova parceria com Luhrmann pudesse trazer os bons tempos de Sabine de volta e que o filme se tornaria uma homenagem para o país que ela tanto amava; e Nine (2009), do diretor de Chicago (2002), que também passou como um fantasma pelos palcos da indústria. Nicole tentou em todos os campos, foi da comédia aos musicais, do drama aos romances, nada estava surtindo efeito. O único filme que recebeu alguns elogios da crítica foi o pouco conhecido Margot e o Casamento (2007), mas que, mesmo assim, não trouxeram tantas alegrias para o dia a dia da atriz. No mesmo ano ainda, chegou a recusar o papel que rendeu o Oscar para Kate Winslet em O Leitor (2008), quando iria novamente ter a oportunidade de trabalhar com Stephen Daldry.

Durante uma época, Nicole beirou a depressão, foi aí que iniciou as constantes e exageradas aplicações de botox, nessa altura já casada com o cantor country Keith Urban. Kidman chegou a anunciar que ia desistir da carreira em função dos fracassos que se seguiam.



Parece que algumas coisas acontecem por ação divina ou sabe lá o quê. Mas, acredito realmente que alguns papéis foram perfeitos para alguns atores, como é o caso da bailarina Nina de Natalie Portman em Cisne Negro (2010), não tem como imaginar outro ator fazendo. A chance de Nicole Kidman veio com o convite do diretor John Cameron Mitchell, para interpretar uma mãe que acaba de perder o filho num acidente e tenta restabelecer sua vida. O drama que recebeu o nome de Reencontrando a Felicidade (2010), que felicidade não tem nenhuma, rendeu para Nicole Kidman uma nova respirada dentro do mundo do cinema. A atriz foi reconhecida com uma indicação merecidíssima ao Oscar e só perdeu porque concorria com a mesma bailarina citada algumas linhas acima. O papel denso traz Kidman à velha forma, mesmo com o rosto um pouco deformado pelas plásticas, ainda é possível se emocionar com o trabalho da atriz, desde de a entrega corporal, de sofrimento à flor da pele, de castigo e luta interna ao simples desfile gracioso de sua aura diante das câmeras.

Nicole Kidman voltou porque tem o que doar, tem o que mostrar, só precisa estar no papel certo regido pelo cara certo. Um brinde a beleza e ao talento da grande Nicole Kidman.



FILMOGRAFIA OBRIGATÓRIA

Terror a Bordo (1989)
Um Sonho sem Limite (1995)
De Olhos Bem Fechados (1999)
Os Outros (2001)
Moulin Rouge - Amor em Vermelho (2001)
As Horas (2002)
Dogville (2003)
Cold Mountain (2003)
Margot e o Casamento (2007)
Reencontrando a Felicidade (2010)

domingo, 13 de novembro de 2011

Desconstruindo o Amor e seus Dias ( Crítica: 500 Dias com Ela / 2009)

Um cara conhece uma garota.
Ele se apaixona.
Ela não.




Não dá pra esquecer a fórmula plastificada que é fazer filme do gênero comédia romântica. Simplesmente, não tem como. É sempre a mesma historinha, um cara que conhece uma garota, os dois passam pelas mais incríveis adversidades, pra que no final, eles fiquem juntos e felizes para sempre. Alguns atores já estão extremamente marcados pelo gênero em questão, como é o caso do bombado Matthew McConaughey, a artificial Jennifer Aniston e em proporção menor (graças a um investimento dramático) a oscarizada Sandra Bullock.

Nos EUA, a fórmula do gênero é conhecida como “Boys meets girl”, que se refere exatamente a essa solidificação que acontece dentro dessa tentativa de comédia e tentativa de romance. No final, acaba ficando uma história um tanto absurda, que foge do romance e cai numa comédia escrachada. Porém, não posso fingir que eu não sei que essas histórias sem sal nem açúcar, agradam grande parte do público.



Então, surge um cara desconhecido, diretor de videoclipes, disposto a dar um novo alento as comédias românticas. Sim, ele tem nome e sobrenome: Marc Webb. Pouquíssimo conhecido no cenário hollywoodiano, Webb se dispôs a contar uma história que fosse romântica e engraçada, mas que também se apoiasse em alguns pilares essenciais para dar humanidade e verossimilhança ao gênero tão pouco inovador. Com um ar de cinema independente, surge o fantástico 500 Dias com Ela (500 Days Of Summer. EUA, 2009).

Da mesma forma, que a estrutura técnica do filme se apoiava em nomes desconhecidos, Webb seguiu a mesma linha na hora de montar seu elenco, e não pense você que isso pode ter afetado a qualidade do produto, muito pelo contrário, seria mentira minha se eu dissesse que não culminou na verdadeira quase obra-prima. Alguns podem ficar fervorosos e inconformados com minha entrega e aceitação desse filme. Em comparação com grandes clássicos ou até mesmo bons filmes, ele pode passar despercebido. Mas, o que mais me chama a atenção, é justamente a possibilidade de recriar um gênero totalmente fadado a uma fórmula convencional.



500 Dias com Ela, logo de cara, vai mostrar vários acertos, que por mais que sejam bobinhos, fazem total diferença. Primeiro ponto: a narração inicial da obra, que instantaneamente alerta o espectador a uma história que pode incomodar. Segundo: a contagem dos dias somado a arte visual do tempo, que significa o quanto aquele dia foi bom ou não. E terceiro: a narração não-linear, o diretor não se vê obrigado a contar os passos das personagens seguindo uma lógica cronológica (soa estranho), ele vai e volta no tempo com muita habilidade. Essas características por si só já tornam a trama mais complexa, diferente de uma comédia romântica no “talo”.

No mais, a história inicial segue um pouco da receita, Tom (Joseph Gordon Levitt) é um cara pouco satisfeito com seu emprego de confeccionar cartões de congratulação, amargurado e que busca, e principalmente, acredita no amor. Sua vida muda quando Summer (Zooey Deschanel e também o trocadilho para o título original) começa a trabalhar na mesma empresa. Logo ela se torna sua ambição amorosa. Summer não acredita no amor, prefere ter relações curtas e pouco sérias. Com o cenário montado, o filme vai contar exatamente os 500 dias em que Tom viverá em função de Summer.

No decorrer da narrativa, Tom se vê cada dia mais apaixonado por Summer, enquanto ela se mantém, na maioria das vezes, fria e independente. Pode-se ver um pouco da tradição que Webb traz dos videoclipes. Numa das cenas, o personagem de Gordon-Levitt canta e dança na rua, após a primeira noite de amor com Summer.



A trama é recheada de bons momentos, como a cena (a melhor) em que o casal assiste a Primeira Noite de um Homem no cinema, e reagem de formas distintas ao término do filme, um aos prantos e o outro aos risos. Também temos a cena em que a tela é dividida e de cada lado é mostrado as visões diferentes do mesmo personagem: a idealização e a realidade, o que ele esperava e o que realmente aconteceu. É um trabalho magnífico de composição e ideias tão inovadoras para o romance contemporâneo.

A força da obra está na química entre os dois atores. Parece que um foi feito para o outro. Gordon Levitt, que se destacou em A Origem (2010), consegue dar todo o ar juvenil e apaixonado a Tom sem cair em nenhum tipo de exagero. Zooey Deschanel, que está linda e parecidíssima com a cantora Katy Perry, é um estouro. É quase impossível não se apaixonar por ela também. Os dois atores conseguem fazer com que o público se identifique de A a Z com a história e com as personas.



O trabalho também está apoiado numa fotografia que esbanja alegria e cores, diálogos pertinentes, olhares difusos e trilha sonora especialmente encantadora: tem Carla Bruni, Pixies, She and Him (da protagonista do filme), entre outros nomes de peso. A obra também tem intensas referências a grandes filmes da história do cinema, às vezes nos remete a Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004) e fica clara a inspiração no clássico de Woody Allen de 1977, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa.



Daí o filme termina e você se vê de boca aberta diante dos créditos finais. O filme não finda tão bem, não vai de acordo com nenhuma de nossas expectativas, é cada um para o seu lado e cada qual com seu carma (se houver). Você não sabe se chora ou se sorri, mas tem certeza do deleite que foi poder apreciar cada minuto da obra.