terça-feira, 19 de julho de 2011

Blá Blá Blá (Crítica: Lembranças / 2010)



Existem diretores, atrizes e principalmente atores que me causam certa resistência a assistir seus filmes. Mas, tudo isso é muito consciente, conheço bem o trabalho do indivíduo antes de julgá-lo bom ou mal até o fim da vida (assim me parece), não é assistir a um filme e surge essa resistência, até porque eu sei que atores podem não aparecer bem em uma obra devido a um roteiro cheio de falhas, um diretor fraco ou até mesmo um companheiro de cena travado. Tem que estar tudo montado pra que eles possam brilhar. Ainda assim, o trabalho mais difícil fica por conta dos atores: para o filme ir bem, eles têm que se entregar ao máximo e não podem ter medo do que podem precisar fazer em cena; se por ventura o filme for mal, é nos ombros dos atores que cai o fardo também.

Depois de muito insistirem resolvi verificar o que era Lembranças (Remember Me, 2010. EUA). Foi muita insistência mesmo. Sempre que comentava com alguém o quanto eu achava Robert Pattinson um péssimo ator, lá vinha: “Mas você já assistiu Lembranças? É o melhor filme dele, ele está ótimo, o filme é surpreendente e blá blá blá blá blá”. Antes de tudo, quero deixar bem claro duas coisas: primeiro, gosto é uma coisa que realmente não se discute, cada um tem o seu mesmo e, segundo, NÃO É PERSEGUIÇÃO, não estou aqui para falar mal de ninguém, por isso, tudo o que eu achei ruim vai ser argumentado e não simplesmente jogado aqui no texto.



Li uma resenha sobre o filme que me chamou muito a atenção, Pattinson passa hoje pela mesma situação que passou Leonardo DiCaprio na época de Titanic. Porém, existem diferenças. DiCaprio conseguiu provar num de seus primeiros trabalhos Gilbert Grape (1993) que tinha talento, tanto é que foi indicado ao Oscar logo de cara. Com Pattinson acontece diferente. Após o fenômeno que se tornou a Saga Crepúsculo (aqui entre nós, como isso conseguiu virar um fenômeno?) Pattinson vem tentando mostrar uma veia mais madura e dramática, simplesmente querendo encontrar seu lugar no meio dos artistas respeitados em todo o mundo. Lembranças já é sua segunda tentativa. Isso é sinal de que beleza te leva longe mesmo, porque até hoje Pattinson não conseguiu transmitir para as telas nem 1% do que ele consegue com capas de revista, fãs, publicidade, etc. Falha da indústria cultural ou do público consumidor (já cansei de falar que tenho a nítida impressão de que cada vez mais o mundo se torna um teenage dream insuportável).

Se você espera uma virada nessa crítica, que em algum momento eu começarei a falar bem do filme ou de Pattinson. Desculpa, enganou-se. E o que mais vai ter aqui são spoillers.

Antes de explicar um pouco como é o filme tenho que alertar para a fragilidade do roteiro de Lembranças escrito por Will Feters. Ao longo do filme você vai percebendo as lacunas que esse roteiro vai deixando. Até que no final não se entende nada, a impressão que eu tive é que eu assisti três filmes ruins em apenas um péssimo.



Pattinson é Tyler Hawkins, um cara de família rica, mas que nega todo o dinheiro, pois está em busca de um rumo na sua vida, trabalha pra se sustentar, mora num apartamento caído com mais um amigo. Enfim, é aquele tipo que estamos enjoados, por algum motivo ele se rebela contra a falta de tempo do poderoso pai (Pierce Brosnan) para dar atenção à família, contra a falta de sentimento no mundo, as injustiças (putz). Tyler entrou nessa filosofia de vida após o suicídio do irmão.

Enquanto Tyler não encontra seu caminho ele vai vivendo, estuda, sai de vez em quando (apesar de parecer muito introvertido) e às vezes arranja confusão. Numa de suas saídas, após uma briga de rua, Tyler acaba preso por desacatar o policial Neil Craig (Chris Cooper, sempre no tom certo). O que acontece é uma série de situações que extremamente previsíveis e até parecem chamar os espectadores de máquinas: “Vai, absorve isso aí” – O que chamaríamos nas, nem um pouco saudosas, aulas de Teorias da Comunicação de padronização. Tyler, movido pelo colega de apartamento (que por algum motivo acha que tem que dar o troco no policial), é convencido a se aproximar da filha de Craig, Ally (Emile de Ravin, a Claire, de Lost).

Tudo bem, o cenário está formado, e tenho certeza que você sabe tudo o que vai acontecer a partir de agora. Agora minha pergunta é: Porque o roteiro não se manteve centrado na história de Tyler e Ally? Mesmo Tyler com tantos questionamentos sobre a vida já dava um filme.



Ok. Ally se apaixona por Tyler, e ele por ela. Até que chega o momento em que Ally descobre a armação, briga com Tyler, termina tudo e vai embora. A partir daqui, parece que começa outro filme. A única pessoa com quem Tyler ainda mantinha uma boa relação antes de conhecer Ally, era sua irmã mais nova. A menina sofre na escola por ser muito madura para sua idade, é praticamente uma artista intelectual. Após Ally ir embora, a trama central do filme passa a ser a relação de Tyler com a irmã. Após uma trágica festinha de aniversário, a irmã de Tyler torna-se a protagonista do filme e quando menos se espera Ally está de volta para auxiliar o amado e sua família. Não existe uma conversa de reconciliação, de colocação dos pingos nos “is”. Desconexo até a última gota.

Se não bastasse esse imenso recheio de clichês e de histórias sem quê nem porquê, vem o final. Para alguns pode parecer surpreendente e impactante. Para mim só mostra a intensa fragilidade do roteiro, que precisou apelar para um final que foge da história e que realmente é impactante. Mas existem bons e maus impactos. Diria que foi desagradavelmente impactante.

As histórias vão sendo deixadas de lado, é como se no meio de uma o diretor pensasse “Ah esqueça essa. Olha essa. Muito mais interessante né?”



Robert Pattinson não faz nada mais do que o babaca do Edward. Monta um personagem travado, repleto de caretas e diálogos chatos. Pattinson tem muito o que evoluir. Na cena em que o ator deveria mostrar toda sua veia dramática e mostrar o que sabe fazer, ele é engolido por Pierce Brosnan, que cá entre nós, não passa de um ator mediano. Emile de Ravin está apagada. Também dá pena ver grandes atores como Chris Cooper e Lena Olin nesse tipo de trabalho sem expressão.

A sensação é de muito blá blá blá. O filme poderia ter sido muito melhor se escolhesse apenas uma das subtramas, mas optou por uma imitação de Crash (2005) com histórias fracas e atores pouco expressivos.

2 comentários:

  1. AMEI a resenha, ODIEI o filme.

    Lindo, Guzinho, LINDO.

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  2. Eu gosto muito do Robert Pattinson, ele é um ótimo ator, mas realmente, esse filme não fez muito sentido... Notei que é cheio de diálogos desnecessários, e as coisas acontecem muito rápido...

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