domingo, 26 de fevereiro de 2012

Nascidos para Morrer (Crítica: Precisamos Falar Sobre o Kevin / 2011)

É do amor permeado pela dúvida que surgirão seus maiores desafios, suas mentiras escabrosas, seus olhares medonhos e seus filhos bastardos.



Não existe nem nunca existiu fórmula para o amor, ele aparece ou não. Amor de amigo surge por afinidade e amor de casal surge por atração (pelo menos é assim na maioria das vezes, mas, como eu disse, não existe regra). Talvez nesse quesito, as mulheres sejam os seres mais cobrados da sociedade. Amor de mãe surge como, afinal? Dizem os mais conservadores que ele vem a partir do instante em que a semente é plantada, e isso é o que difundimos por aí. É inaceitável o desprezo de uma mãe por um filho. É crime e merece ser castigado.

O roteiro de Precisamos Falar Sobre o Kevin (We Need to Talk About Kevin, Reino Unido/ EUA. 2011), baseado no romance de Lionel Schriver, propõe, entre outros tantos polêmicos assuntos, um debate asfixiante sobre a conduta de uma mãe no relacionamento conturbado com o seu primogênito, o tal do Kevin. Passiva demais? Dura demais? Egoísta demais? Ou o problema nem está ali?



Através de uma narrativa densa e complicada, a diretora Lynne Ramsay projeta ao espectador uma experiência emocionalmente devastadora. É até complicado falar por uma questão sensitiva: a obra se caracteriza por um misto enorme de sentimentos e cabe a cada um expressá-lo da melhor maneira possível. Prepare-se: você se anulará o tempo todo. É como se fosse nosso dever apontar um culpado, um inocente ou um nada. A história não nos permite passividade ou algo do gênero, e promete deixar você dias a fio com uma teoria plantada na sua cabeça.

Nos primeiros minutos do filme, nós somos apresentados a uma mulher solitária, que tem no olhar e nas marcas de expressão algum segredo muito forte guardado a sete chaves. Não é um segredo, mas também não se sabe se é medo ou vergonha. Tudo acaba sendo permitido a personagem. Quem dá vida a essa Mulher, Eva, é a estonteante (talento) Tilda Swinton, que encarrilha um trabalho melhor que o outro nos últimos anos. Através de flashbacks (apresentados com muita calma e precisão pela diretora) vamos descobrindo quem é aquela mulher, quais são os seus receios e suas dúvidas.



Eva era uma mulher do mundo, bebia vinho com o futuro marido (o ótimo John C. Reilly)pelas ruas da cidade, tomava banho de chuva, se aventurava em eventos como a Tomatina (que acaba por se tornar uma das principais metáforas da obra), era verdadeiramente uma cidadã do mundo. Até que é acometida por uma gravidez indesejada. Ponto final. A diretora volta ao presente de Eva e mostra a casa dessa mulher sendo atacada por vândalos, ataques violentos de madames na rua. Para o espectador que se depara com Precisamos Falar Sobre o Kevin sem nunca ter ouvido qualquer premissa sobre o filme isso se caracteriza como uma sacada absurda, os pontos nunca serão entregues. Cabe ao espectador paciência, pois se trata sim de um filme muito denso.



Nasce Kevin, aquele que viria se tornar o grande pesadelo de muitas pessoas. Desde bebê, Eva não teve muita sensibilidade com o filho. Não tratava mal, longe disso, mas faltava um estalo de delicadeza, um surto mínimo de abertura para essa nova vida. Numa das cenas mais fantásticas do filme, Eva encosta o carrinho junto a uma britadeira em ação no meio da rua para, por alguns minutos, não escutar o barulho do choro incessante do filho. A crueza como a diretora impõe essa cena ao espectador é de dar arrepios, afinal, que mãe é essa sem nenhum artifício para parar essa criança? Mágica não existe, tanto pra um quanto pra outro.



Kevin cresce e quem dá o ar da graça é o talentosíssimo Ezra Miller,um jovem ator que soube, no tom certo, misterioso e desprezível, dar vida a personagem. Durante esses quinze anos, Kevin sempre intrigou a mãe, é nítido o medo que Kevin consegue enraizar no semblante da mãe e, ao mesmo tempo, o carisma conquistado pelo permissivo pai, que põe em cheque toda a autoridade da mãe. Kevin “amadurece” em torno de vários mistérios: o acidente quase faltal com a irmã mais nova, a dificuldade em fazer o que lhe é pedido, por exemplo, Kevin só começa a falar quando lhe é viável, até lá, ele mantém sua mãe numa busca irrisória aos seus olhos. Kevin conquista sua independência psíquica com cerca de quatro anos. É assustador.

O que o filme traz pra gente é o que o próprio título sugere: uma conversa sobre a conduta de Kevin. Até ele entrar numa escola e matar dezenas de pessoas, possuído por uma frieza marcante desde que estava em fraldas, nossa empatia acaba se juntando a mãe, que no fim das contas, talvez também não mereça nossa compaixão. Tudo se torna tão à flor da pele como um romance tórrido, existe competição plena entre mãe e filho, jogadas implícitas realizadas tanto por um quanto pelo outro, ninguém encontra seu lugar nem seu papel naquela família e isso assusta, assusta muito.



Tilda Swinton dá ares frescos a esse bicho chamado Eva, tomada pelo sofrimento e culpa, a atriz nos põe cara a cara com Kevin, não existe interconexão, graças ao seu absurdo empenho nós somos ela e ela nós até o fim. Mergulhar na história de Eva é algo que não se escolhe. A mulher, esfolada de culpa e marginalizada pela sociedade em virtude do desvio de caráter do filho, cresce aos olhos do espectador em cada fase da vida, desde a mulher sonhadora quando solteira até a mãe dividida entre a dúvida e o amor. Os caminhos (todos mostrados na obra) de redenção pessoal e entendimento da personagem promovem um trabalho simplesmente perfeito de Tilda Swinton. E seu poder encontra-se todo na expressão: cativa e silenciosa quando enfrenta os olhos de outros, assustada e nervosa quando se reflete em si própria.

Não tem como se esquecer de um filme como esse. O trabalho dos atores, o trabalho primoroso da diretora (sendo esse um dos melhores filmes de sua carreira), a fotografia e até mesmo a trilha sonora, que deixa aquele clima de horror sempre pairando no ar. Assim se fez um dos melhores filmes de 2011, que irritantemente foi mantido fora do Oscar. E quem perde são só eles.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Ao Som de uma Gaita de Fole (Crítica: The Big C)

"Comece mudando a si mesmo. Ninguém muda o mundo se não consegue mudar a si mesmo ..."



The Big C foi a grande pérola que eu encontrei em meio as novas séries americanas. Estava pensando em fazer um post menos melancólico, sem tantas adjetivações, que acabam por ser sugestivas, mas com The Big C não dá. A série, que acabou de confirmar a terceira temporada, não me permite ser implícito ou reservado, o grau de emoção e sentimentos que ela consegue transmitir, transcende muitos grandes filmes.

A fórmula de The Big C pode ser encarada por muitos como “já batida”, muito explorada tanto pelo cinema e por séries também, como Weeds e United States of Tara, que, tem como protagonista, uma mulher e sua luta contra uma grave doença. Tinha tudo pra dar errado. Mas, essa série se configura por ser um trabalho bastante diferente. Sim, a carga de sentimentos humanos que ela consegue transmitir é muito alta, mas, ainda assim, é carregada de humor negro e cenas memoráveis com alto teor de sarcasmo. Se existe uma palavra para definir a série, essa palavra seria leveza, graças a essa mistura de drama, comédia e muito bom gosto.



Veiculada por um canal pequeno nos EUA, a Showtime, a série anda com louvor, possui um roteiro surpreendente e um elenco de primeira. No Brasil, é a HBO quem está comandando a série. Se o tema foi exaustivamente explorado por outros projetos, se o caminho a seguir poderia ser tortuoso e acabar por definhar em apenas uma solitária temporada, The Big C conseguiu driblar tudo isso.

A série foca numa personagem feminina, Cathy Jamison, interpretada com desenvoltura pela veterana Laura Linney (Conte Comigo, A Família Savage e Sobre Meninos e Lobos). Cathy é casada há vinte anos com Paul (Oliver Platt), como fruto da relação veio Adam (Gabriel Basso), um adolescente frio e misterioso aos olhos da mãe. Logo no primeiro episódio, quando somos apresentados a Cathy, descobrimos que ela possui um câncer feroz e em estágio avançado e que ela está separada do marido. Por força dessa mesma doença, Cathy sente necessidade de viver a vida, esta que ela sente que deixou passar em branco.



O foco principal do roteiro é a relação de Cathy com as personagens que entram e saem da série, deixando, cada um, uma imensa saudade e um brilho no olhar do espectador. Seja pela vizinha Marlene (Phylis Sommervile, um brinco), rabugenta e vítima de Alzheimer, que ao longo da série se torna uma grande amiga da protagonista, o marido, que ama a esposa mais que tudo, mas parece fazer tudo errado, o filho, que solta palavrões e tende a desrespeitar qualquer regra imposta pelos pais, a aluna obesa e sem papas na língua, interpretada com louvor pela preciosa Gabourey Sidibe (perdoem-me o trocadilho), o irmão Sean (John Benjamin Hackey), sujeito que vive na rua e prega as mazelas do mundo capitalista. Sem contar os interesses amorosos de Cathy, como o próprio médico, e um pintor, que ela conhece na escola onde trabalha.

A príncipio, Cathy esconde o câncer de todos, na maioria dos posts e comentários que eu encontrei sobre The Big C, os espectadores julgaram a protagonista como uma mulher egoísta e hipócrita, e talvez, isso venha de sua necessidade em repelir os sentimentos de pena das outras pessoas. Cathy não quer ser vista como uma coitada, vítima de câncer, inútil para a maioria das pessoas, muito pelo contrário, o câncer chega como um novo sopro na vida da mulher de 42 anos. O câncer vira o grande motivo de Cathy querer buscar a beleza de um diálogo com o filho, na conquista árdua de um de seus alunos, proporcionar para si mesma um alento, que permita um sono tranquilo e a sensação de dever comprido.



Por mais que pareça clichê, o roteiro consegue desvencilhar cada buraquinho que possa ser encontrado na narrativa. A série surpreende e não é pouco. É interessante e muito criativo como cada um descobre o câncer de Cathy, ou como, cada um, acha que descobre. As diferentes reações de cada personagem, os diferentes desabafos da protagonista, a leveza de cada diálogo, de cada superação da personagem.

Cathy pode ser considerada uma das personagens mais complexas da televisão americana, seja por seu aparente egoísmo, que quem a conhece entende que não é tamanha é a entrega da atriz, que faz com que nós sejamos amigos, e que ela seja nossa confidente, ou pela sua luta sienciosa contra o mal. É totalmente feita para proporcionar um mergulho muito delicado e gelado na face dessa mulher.



Mesmo tratando de um tema severo, a série traz uma dose de humor muito grande. Cathy costuma fazer chacota de si mesma, de como a doença a está matando, de como ela escolhe nãos seguir nenhum tratamento combativo a doença, de como ela realmente enxerga o seu passado e o seu presente, caminhando sobriamente até a luz que um dia supostamente irá lhe atingir.

O elenco, como eu já disse, é de primeira. A química que se encontra entre cada ator é de fazer o queixo cair. Laura Linney ainda é a maior estrela da série, seu jogo de corpo em cena e sua técnica mostram aquela atriz que a gente sabe que é fantástica, mas que sempre optou por ficar escondidinha naquele canto da sala. Talvez, por isso, Laura Linney aposte em trabalhos mais arriscados como esse, por não ser tão insuflada pela indústria cinematográfica.

A série já possui duas temporadas, cada uma com treze episódios de mais ou menos trinta minutos, a terceira temporada deve vir em junho. Detalhe: a trilha sonora também deve ser reparada e apreciada, recheada de música de bandas independentes e vozes serenas.



É incrível essas nuances que a proximidade da morte pode trazer a um ser humano. A vulnerabilidade que ela nos traz só deixa mais nítido como não somos donos do nosso próprio nariz. Pra isso, pra tudo isso, existe o destino. Ou você é ou você não é. Ou você antecipa sua morte ou você vive sua morte. Cathy planta uma semente de esperança e fé no espectador, que provavelmente nunca morrerá.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A Hora e a Vez de Meryl Streep (Crítica: A Dama de Ferro / 2011)


"Fique Firme".




Meryl Streep é unânime.
Não existe atriz, não existe ator, não existe diretor, não existe ninguém com o poder de Meryl Streep. Isso não se resume apenas a talento, este que a atriz tem pra dar e vender, mas também a um poder de mobilização de fãs, colegas de trabalho, e da própria indústria de entretenimento, que emenda uma fila sem fim de admiradores e difusores de sua arte. É fato, fica difícil citar outro artista com tamanha influência sobre todos os termos que regem a indústria cinematográfica, talvez Spielberg, talvez Scorsese, talvez DeNiro, não sei, Meryl Streep consegue ser unânime, não existe talvez, existe uma estrela, seja em calçadas ou em corações, ela arrebata milhões de pessoas com sua magnificência e amor pelo trabalho.

Dezessete vezes indicada ao prêmio máximo do Cinema, a atriz chega ao Oscar 2012 como a favorita para levar a estatueta para casa pela terceira vez: a primeira foi por Kramer vs. Kramer (1979) como coadjuvante, e a segunda, por A Escolha de Sofia (1982) na categoria de atriz principal. Mais uma vez, agora em A Dama de Ferro (The Iron Lady. Inglaterra, França, 2011), Streep emplaca mais um belíssimo desempenho e se torna recordista absoluta de indicações ao prêmio. Não é pra qualquer um.



Quando foi convidada a encarnar a ex-primeira-ministra da Grã-Bretanha, Margareth Thatcher, Meryl não pensou duas vezes. Com uma carreira recheada de mulheres nascidas genuinamente da ficção, surge uma das raras oportunidades de se produzir, com seu brilhantismo, uma mulher de verdade, forte, corajosa, realmente de ferro. Contudo, o roteiro fracassou, a diretora cedeu aos clichês de um mundo desinteressante e formulou uma história muito pouco atrativa.

A diretora Phyllida Lloyd não possui grandes feitos em seu currículo, talvez o mais conhecido seja o musical gracinha Mamma Mia! (2009), que também conta com a presença de Meryl Streep. Talvez, por isso, tenha faltado bastante sensibilidade na construção desse trabalho, que por mais que tenha a genialidade de seu elenco, mantém-se muito abaixo do esperado para uma biografia de uma das mulheres mais importantes do século passado. Lloyd constrói exatamente um filme para quem não gosta de política: Não explica os maiores feitos da dama de ferro, não explicita suas conquistas e suas derrotas. Escolhe ficar numa onda baixa e mansa, sem refletir toda a agressividade e turbulência que foi a vida de Thatcher.



Margareth Roberts, como nasceu, cresceu na Inglaterra pós-segunda guerra, abatida por um conservadorismo ferrenho e com um sublime interesse por política, foi admitida em Oxford. Sua ousadia gritante seria vista nos quatro cantos de seu círculo de relações. Thatcher é responsável por tirar a Inglaterra de uma das mais ferrenhas recessões que o país enfrentou, e não só por isso, mas também por lançar o pequeno reino, logo após a crise, num período ininterrupto de prosperidade. Apostou na política neoliberal, sempre apoiada pelo seu partido, o Conservador, fez vista grossa com os gastos, sofreu com os atentados terroristas do IRA, entrou em conflito armado com a Argentina, e combateu o “mal” do socialismo. Por essa luta ferrenha contra os comunistas, recebeu o apelido de Dama de Ferro, particularmente apadrinhado pelos soviéticos.

O drama de Phyllida Lloyd não explora os anos de trabalho dessa mulher, que chegou a ser a mais odiada do mundo durante a década de 1980. Lloyd preferiu construir um longa repleto de flashbacks, onde uma Margareth Thatcher velha e senil se recorda de sua trajetória. Tudo muito comido, roído, jogado ao espectador sem nenhum tipo de explicação.

A menina feia rejeitada pelos colegas, a jovem aceita por Oxford, que conhece seu marido numa mesa de politicagem, a primeira eleição perdida, a chegada ao Parlamento, a ocupação de cargo de Ministra da Educação (após muitos anos) da gestão anterior a sua, enfim. Nada é explicado, nada é pronto, muito menos facilitado para nós. Em dois terços do filme veremos a primeira-ministra totalmente debilitada pela idade, tentando driblar o controle da filha, da empregada e do fantasma do marido, que ela vê com frequência, no restante da obra, você verá os flashbacks da vida política de Thatcher, como eu já disse, extremamente mal desenvolvidos. Em que lugar ficou as propostas, ideias e ações de Thatcher? Quem foi seu braço direito, quem alimentou suas campanhas? Onde estão os onze anos de turbulência comandados pela líder britânica? Falta informação, falta pesquisa. Pra quê tantas cenas vazias e superficiais? Não há como não comparar com o excelente A Rainha (2006), que se traduz num filme exato, correto e conflituoso. A busca pela imagem concreta de Thatcher não chega nem perto da construção primordial da Rainha Elizabeth II.



Nos últimos minutos de projeção, o filme se torna extremamente confuso: o roteiro te joga um novo descontentamento com a figura política e, consequentemente, culmina na sua queda do poder. As cenas de Thatcher atual se traduzem lentas, melancólicas, enquanto as atuais são minimalistas e corridas.

Incomoda-me muito ver uma obra tão pela metade assim, que não diz ao que vem. Eu fui assistir na esperança de ver Thatcher julgando o resto do mundo, combatendo as forças socialistas, impondo suas leis e ideias para a sociedade, contrariando os políticos liberais, mas não, tudo o que se tem é um filme morno, onde a única coisa que realmente dá certo é Meryl Streep e sua sublime caracterização.



Simplesmente o filme deveria se chamar Meryl, assim ele estaria mostrando o que é capaz de fazer uma grande atriz, mesmo em frente a uma personagem tão rasa. Mesmo quando velha, Streep dá o costumeiro show de sempre e decreta com uma imensa rocha seu posto de melhor atriz do Cinema contemporâneo. Se antes existia Liv Ullman, Katherine Hepburn e Geraldine Page pra trazer alguma dúvida, hoje o caminho é só dela. Não existe ninguém igual. A caracterização da personagem também recebe nota altíssima, desde o figurino novo em folha e a maquiagem espetacular, até a absorção de um sotaque firme e convincente, que consegue dar todo um charme singular a personagem. Meryl provavelmente sentiu dificuldades em problematizar a personagem, por isso leva todo o filme nas costas, sem reclamar, sem pestanejar, muito pelo contrário, torna um trabalho que provavelmente seria impossível nas mãos de uma outra atriz, numa performance invejável e favorita a ser coroada como a melhor do ano. Por fim, se alguma coisa pode atrapalhar a vitória de Meryl, essa coisa é a ineficiência do filme como um todo.



Pra terminar, gostaria de ressaltar que o filme deve, sim, ser visto unicamente pelo trabalho da atriz. Se você procura conhecer o Thatcherismo, desista. Se você clama por um grande filme, desista. É simples: Se você não conhece Margareth Thatcher, essa não é a sua chance.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A Origem do Mal (Crítica: Mildred Pierce / 2011)

O amor de mãe é o combustível que permite a um ser humano fazer o impossível (Marion C. Garretty).

Se existe uma coisa tão mística e confundível, que pressupõe teorias bestas tamanha a complexidade do assunto, com certeza é a origem da maldade. Muito presa a ideia de criação, de formação de caráter, o surgimento da maldade põe em cheque muitos estudos de psicanalistas e educadores: Será mesmo que o indivíduo se tornará impetuoso e atroz pelos costumes empregados dentro de casa? Não seria a malignidade uma esfera genética ou um traço concebido por anjos guardados de fome sedenta?

Lendo esse primeiro parágrafo, todos poderiam pensar que resenharia sobre algum filme de psicopata, ou um suspense enraizado de violência gratuita, ou talvez um melodrama perverso e edificante. Não. Não é nenhum desses tipos de filme e sim, uma mistura genuína de todas essas faces que nada mais é do que a vida real. Uma dose de drama, uma pitada de violência verbal e implícita e, claro, o principal, um bom caldo de misticismo psicológico: A relação da maldade com o ser humano e como essa aflige os seres que mais amam, mesmo que os seres amados sejam os psicopatas.



Diria que agora vem a surpresa. Aqui estou fazendo uma singela colocação sobre os trunfos da improbidade pra falar da minissérie, veiculada pela HBO, Mildred Pierce (EUA, 2011). “ÓHHHH, mas quem seria o psicopata da história? Mildred? Quem seria o perverso? Monty? Quem seria a atroz? Veda?” O que mais me chama a atenção nessa produção é justamente a complexidade e a volubilidade das personagens. A princípio, você não sabe se Mildred merece seu desprezo ou sua pena, não decide se Veda é má ou só um ser carente (sem motivos diga-se de passagem). A grande questão da obra é a multifacetagem dessas personagens que transbordam vida através dos mais diversos sentimentos.

Mildred Pierce é uma obra adaptada do romance de James M. Cain, publicado em 1941 e que até já recebeu uma adaptação para o Cinema e, além de tudo, presenteou Joan Crawford com um Oscar de Melhor Atriz em 1945. No Brasil, a obra recebeu o título de Almas em Suplício. Assim, como se vê na minissérie, o filme se destacou por ter ótimas atuações. Fã do filme e da obra de Cain, o cineasta Todd Haynes (Longe do Paraíso, Não Estou Lá) assumiu a direção dessa nova aquisição da HBO. O trabalho de Haynes ganhou um suspiro novo ao preferir seguir de forma mais fiel as questões do livro, focando principalmente no relacionamento conturbado entre mãe (Mildred) e filha (Veda). Adicionou a filha mais nova e alguns outros maneirismos que só deram agilidade ao telefilme.



Haynes já provou em outros trabalhos que é capaz de fazer melodramas firmes, pontuados de interpretações magistrais (o diretor é um ótimo diretor de atores), e um bom gosto difícil de ver na indústria televisiva. Lembre-se: Mildred Pierce é um trabalho feito para a televisão. O ponto forte do filme fica sendo justamente a parceria entre Haynes e Kate Winslet, que interpreta a complexa Mildred Pierce como se ela fosse mais uma dessas tias com quem ela passou uns quarenta anos reparando em todos os detalhes. Haynes apostou nessa construção meticulosa da vida de Mildred e teve em Winslet seu porto seguro, é quase impossível encontrar uma cena em que Kate não esteja participando. A parceria é fantástica e poderia, com a graça do senhor dos cinéfilos, trazer outros grandes trabalhos num futuro próximo.

A trama narra a história de sofrimento de Mildred Pierce, como eu já disse, interpretada com fulgor pela genial Kate Winslet. A minissérie começa logo com Mildred colocando o marido Bert (Brian F. O’Byrne) para fora de casa. Atente a época da projeção. A história se passa no início dos anos 1930, logo após a Grande Depressão americana, que colocou milhares de cidadãos americanos no meio da rua, sem chance de emprego e totalmente falidos. Mildred, incomodada com o marido adúltero, não pensou duas vezes antes de pôr o marido pra fora, mesmo sendo ele sua principal fonte de renda e certeza da segurança de uma família tipicamente civilizada conforme ditavam os padrões da época. Mildred se vê sozinha, tendo que cuidar de suas duas filhas, a mais velha Veda (Morgan Turner e Evan Rachel Wood, as duas espetaculares) e a mais nova Moira.



Curiosamente, Mildred não se importa com os títulos que pode receber diante da separação. Seu maior desafio é procurar um emprego para que possa sustentar as filhas, numa Los Angeles ainda bairrista. As faces das personagens começam a se formar logo no primeiro episódio. Mildred é uma mulher que por mais que quebre com uma das principais instituições da sociedade, ainda se mantêm muito conservadora, cheia de si e de uma arrogância que ela tenta esconder. Ela entende que isso deve ser sufocado e morto dentro dela, para assim, se tornar uma boa pessoa, por isso, aceita o emprego de garçonete, ainda com certa relutância psicológica, em nome da “barriga cheia” de suas meninas. A ideia de dignidade não vislumbra as ideias de Mildred, que ainda projeta ou reproduziu, em algum momento, certos preconceitos diante da filha mais velha. É justamente essa, Veda, o grande oponente da própria mãe durante a história.

Dotada de um caráter dúbio, que às vezes se rende a bajulação e noutras à manipulação, Veda prende o espectador tamanho é seu desprendimento com a família, com a história de vida e com a moral. É, de longe, a personagem mais maléfica dos últimos tempos. Pra ajudar, a garota se gaba de possuir o intelecto mais apurado da família, o decline a cultura mais observável, em contraste com a jovem irmã que sai de cena logo no segundo episódio. Veda reage à mãe com uma dose extra de cinismo, se comportando realmente como gente grande, como mulher desvirginada, ratazana de coluna social. Enche o pulmão e grita coisas que ninguém teria coragem de dizer a mãe, aos onze anos modula uma cara de deboche, acende um cigarro e deflagra a fumaça na cara de Mildred. Quando foi que você decidiu que sua rival seria a pessoa que mais te ama? Como que o mundo parou de girar e foi focar em torno de suas vontades e decisões?



Bom, Mildred sendo uma cozinheira exemplar, consegue montar seu próprio negócio, uma rede de restaurantes. Isso com a ajuda do amigo do ex-marido, o asqueroso Wally Burgan, com quem Mildred mantém relações sexuais sem nenhum tipo de afeto: Sexo por sexo e só. Anos 30, gente. Mais tarde, Mildred conhece Monty Beragon (Guy Pearce, segurando as pontas), ainda quando seu negócio engatinhava e trabalhava de garçonete. Monty é o tipo solteirão, bonito e rico que traça qualquer uma que vê pela frente. Mildred torna-se sua vassala, pagando suas contas com o dinheiro advindo de seu negócio que começa a fazer enorme sucesso na cidade dos anjos.

Entre o terceiro e o quarto episódio, passam-se 10 anos e Veda toma a forma da belíssima Evan Rachel Wood. O que parecia impossível se torna um deleite aos olhos de qualquer apreciador dessa arte. Ver a batalha entre Winslet e Wood é de deixar qualquer um com os nervos à flor da pele, destaque para a cena final.



Seria Veda uma potencialista de um possível psicopatismo dominado pela inveja que sente da própria mãe? Pra que tanta passividade em Mildred, que prefere resolver as coisas botando panos quentes, inocentando a filha, impedindo-a de levar seus tapas na cara? O medo que Mildred sente da filha é quase que um cristal em situação mortal: Suas repulsas a filha são monitoradas, contadas no relógio, ela sempre se rende a sua condição, a de mãe. Leia-se, meu bem, com quantos paus se faz uma canoa? Com 20? Trinta? Entenda, com um deles eu destruo toda sua trajetória. Veda é o pau podre da canoa da mãe, e sem esse ela não teria como continuar. Seu destino estava fadado ao controle da filha perversa e imoral.

Kate Winslet venceu todos os prêmios a que foi indicada: Globo de Ouro, Emmy, etc. mais uma vez, Kate prova que uma das atrizes mais invejáveis da atualidade e que seu potencial de se despir de qualquer tipo de vaidade e de emocionar com um simples “olá” ainda continua em alta. Sem Kate Winslet, dificilmente, essa obra seria tão marcante.



Graças a Haynes, que introduz um roteiro bastante amargo, mas sem ser apelativo, e ao elenco competente, que ainda tem Melissa Leo, como a vizinha xereta de Mildred, a obra despontou como um dos melhores trabalhos feitos para televisão no último ano. O destaque e os aplausos são muito mais do que merecidos.



Entretanto, gostaria de deixar uma reflexão final e emendá-la com o início do texto. Relações masoquistas entre mães e filhas, pais e filhos, já foram retratados outras vezes no Cinema, não é novidade pra ninguém a que ponto pode chegar o ser humano mesmo diante de seus pais. A questão é a seguinte: Veda sendo a psicopata que é, encorpada de toda a certeza de sofrimento que deve infligir à mãe, teria salvação num mundo cristão? Seria possível introduzir o mínimo de arrependimento, verdade e dignidade numa pessoa desprovida de qualquer sentimento realmente bom? Veda moveu montanhas só pra ver a mãe despedaçada. Se ela não tivesse nenhum talento, nenhum estudo, mas sua mãe estivesse no fundo do poço, seu triunfo pessoal ainda seria imenso.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Consciência Branca (Crítica: Histórias Cruzadas / 2011)

"A coragem às vezes pula uma geração"



Começou a corrida para o Oscar 2012. Aliás, começou há um bom tempo. Já tivemos premiações como o Globo de Ouro, a lista de indicados do Bafta, do Actor’s Screen e no dia 24 de janeiro saiu a lista de indicados ao maior e mais conceituado prêmio da sétima arte: o Oscar. Nós já sabemos que o Oscar não deve ser levado tão a sério, prova disso são os grandes filmes e as brilhantes atuações que costumam ficar de fora do evento. Então, não se faz simplesmente um grande filme e espera ele ser indicado. A Academia tende a ser conservadora, não gosta de grandes blockbusters, que arrasam com a bilheteria, nem é fã número um de filmes repletos de efeitos especiais, de ação, vilanias, entre outras coisas que costumam passar batido aos olhos dos votantes, viu-se isso no esquecimento de Batman- O Caveleiro das Trevas no Oscar de 2009. Porém, existem as exceções, e elas não são poucas: O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei, que abocanhou os 11 troféus a que havia sido indicado no ano de 2004, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor para Peter Jackson (ainda acredito que a saga de Jackson seja um caso muito particular, era o término de uma trilogia que fez história); em 2010 foi à vez de Avatar chegar como favorito da noite, mas sair praticamente de mãos abanando, e no mesmo ano a Academia reconheceu também o ótimo Distrito 9.

O post não tem nenhuma pretensão de esmiuçar o que se passa na cabeça dos “old mans” que habitam as cobiçadas cadeiras da Academia, mas sim, tentar, mais por brincadeira, prever o que pode acontecer na noite da entrega dos prêmios, que acontece mês que vem no Kodak Theatre, em Los Angeles. Para isso, comecei a conferir os filmes mais cotados para levar alguns carecas dourados para casa, a começar com Histórias Cruzadas (The Help, EUA. 2011). O filme, dirigido e escrito pelo desconhecido Tate Taylor, não chega como favorito para Melhor Filme, nem poderia: a história parece muito água com açúcar perto dos outros possíveis indicados. A garota branca que se mobiliza, ainda que de forma preguiçosa, em “prol” das empregadas negras de Jackson, Mississipi.



Não que a história e o filme não tenham seus méritos, tem sim e muitos, mas ainda falta uma história em que o negro não seja simplesmente o instrumento da revolta, da fala, mas também uma história em que ele seja a caça e o caçador, seja o instrumento e o instrumentista. Isso não diminui e nem descaracteriza a obra, mas a torna um tanto televisiva e batida demais. Sei que muitos vão discordar e talvez parem de ler a crítica por aqui: Que história é essa de que o negro não foi autor de sua liberdade? Como assim? Quem disse que é preciso de uma garota branca para levar nossos ideais e dignidade pela frente? Então, te peço, leia e verá que o filme não é só isso, as partes boas superam deliberadamente a única parte que, em minha opinião, não cola.

Histórias Cruzadas narra a história das empregadas domésticas de Jackson, cidade do sul dos Estados Unidos, por volta dos anos de 1950. Pra quem nunca teve contato com a história real da parte sul dos Estados Unidos, aí vai uma simples pincelada. A parte sul do estado americano configurou-se, em seus primórdios, numa linha bem diferente das colônias dor Norte. Enquanto no Norte o trabalho era livre e as colônias buscavam evoluir como Democracia e nação, no Sul, as colônias se baseavam na mão de obra escrava e na exploração máxima da terra. Essa configuração foi além da independência do Estado, ou seja, mesmo depois de se emancipar dos ingleses, continuaram nessa divisão drástica dentro do próprio território. As rivalidades entre os habitantes do Norte e do Sul se tornaram explícitas e tudo terminou com a Guerra de Secessão, em que os Estados Unidos travou uma guerra consigo mesmo. Dica: o filme E o Vento Levou é um dos melhores para entender o que houve durante esse período nos EUA. Enfim, o Norte venceu a guerra, e o Sul foi obrigado a implantar o trabalho livre e assalariado como mão de obra única dentro do seu território.



Como tudo tem uma consequência, não podia ter sido diferente, mesmo nos EUA. É certo que, provavelmente, você já tenha ouvido falar que um dos maiores problemas na terra do Tio Sam é o racismo. Após perder a guerra, a parte Sul do país se mobilizou em criar movimentos de repressão violenta aos negros, sendo o mais conhecido e responsável por milhares de mortes, a Ku Klux Klan, mencionado no próprio Histórias Cruzadas. Espero que tenha dado pra entender alguma coisa dessa explicação histórica (?).

Pois, então, no meio dessa violência plácida, Histórias Cruzadas vem contar a história de negros que sofrem com esse racismo enraizado mesmo depois de tantas décadas de liberdade concedida.

Aibileen (Viola Davis, estupenda) é uma mulher que se aproxima da meia idade, negra e que teve que largar os estudos ajudar cedo para ajudar dentro de casa, dessa forma ela se tornou empregada. O filme todo é narrado por ela. No início, Aibileen conta de cada criança que cuidou e como chegou no trabalho atual: a empregada faz-tudo da fútil Elizabeth (Ahna O’Reilly). Aos poucos, entra na história sua melhor amiga, Minny (Octavia Spencer, um estouro, tão boa quanto a protagonista), também empregada, só que muito mais maltratada pela megera da história: Hilly Holbrook (interpretada com maestria pela sumida Bryce Dallas Howard). No geral, o centro de tudo é esse: como as empregadas domésticas negras são usadas e jogadas como pano de chão em qualquer canto, sem nenhum reconhecimento e alvo das mais ignorantes chacotas, sofrem um abuso de poder inominável e devem se manter quietas, concentradas em seu trabalho.



Numa reunião de jovens senhoritas racistas, onde todas as “proprietárias” de empregados negros, debatem a ideia, posta por Hilly, de construir um banheiro separado para negros dentro de casa e assim prevenir algumas doenças, está Skeeter (Emma Stone, encontrando seu caminho), uma jornalista solteirona que não compartilha da opinião das amigas quanto ao lugar do negro dentro da sociedade. Porém, Skeeter é uma personagem um tanto contraditória, pois, ao mesmo tempo que rompe com as amigas, ainda se mantêm vulnerável, de fácil compra pelas mesmas, seja por sua solteirice não tão bem aceita por ela mesma ou por sua ineficiência num mundo tão repleto de injustiças. Apesar de tudo, a jovem jornalista tem um assombro de salvação, mais por escrever o livro do que de ajudar essas mulheres. Após saber que a mãe demitiu a mulher que a criou durante toda a vida inteira, e ver Aibileen ser humilhada no seu próprio trabalho, Skeeter decide escrever um livro com as histórias sofridas por essas empregadas.

Skeeter não parece ser uma mulher que leve o racismo entre seus princípios, mas nota-se um egoísmo tímido, citado pelo próprio namorado dela, algum tempo depois de sua projeção. A aspirante a escritora está muito mais preocupada com o trabalho do que com o fruto de uma luta. A única personagem livre de preconceitos, e sim, a mais deliciosa, em todos os termos, ficou por conta de Jessica Chastain. Chastain foi escalada para viver Celia Foote, a dondoca que contrata Minny para ajudar nos serviços de casa, para aprender a cozinhar para o marido e ter uma companhia dentro de casa. Talvez por não ser aceita pela senhoritas de Jackson, Celia entenda o que é sentir-se desprezada, olhada pelo canto dos olhos. A bela mulher não quer participar de rodas de amigos racistas, mas sim, de rodas de amigos. É o melhor ar fresco do filme.



Fica por conta de Jessica Chastain as melhores cenas do filme: a da chegada da nova empregada, a qual ela recepciona com o vidro de coca-cola e um enorme sorriso no rosto, a cena em que sofre aborto e Minny arromba a porta, e a linda tomada final da personagem, em que a Minny assusta-se com a chegada do marido de Celia no jardim, e temendo que ele seja um membro da Klu Klux Klan, joga tudo para o alto e sai correndo. Quando a acalma, o marido entra com Minny na casa, e ela se depara com uma mesa repleta de comidas feitas por Celia. Era um jantar oferecido a Minny, com todos os pratos que ela ensinou Celia a preparar.

Bom, a história central é a feitura do livro de depoimentos e histórias das empregadas de Jackson, todas entrevistadas por Skeeter, chamado The Help. O filme é repleto de personagens, por isso, é meio complicado desenvolver uma sinopse mais direta e concreta. Deve ser assistido com muito carinho pelo espectador, que verá diferentes tipos da sociedade, hora encantando-se com um, hora menosprezando outro.



O grande trunfo do filme é, sem dúvida, as atuações, e é nesse quesito que provavelmente The Help deve dominar o Oscar 2012. O Globo de Ouro já foi um termômetro e premiou Octavia Spencer como coadjuvante, além de indicar Chastain na mesma categoria e Viola Davis como principal. O Oscar de coadjuvante deve ficar mesmo com Octavia Spencer que faz um retrato cru e emocionante de uma mulher que apanhava do marido, mas, mesmo assim, tinha forças para encarar a sociedade. Viola Davis chegou favorita para o Globo de Ouro, mas não levou o prêmio, senão fosse Meryl Streep e Michelle Williams no seu caminho suas chances seriam maiores. Ainda assim, Viola está muito bem cotada e pode surpreender (ou não) na noite do Oscar.

Ainda quero fazer jus ao restante do elenco. Não tem um ator sequer que esteja fora de sintonia com a história. Todos entregam atuações brilhantes e merecidas de algum prêmio. Allisson Janney, que faz a mãe com câncer de Skeeter, está um arraso, e Sissy Spacek arrebenta em poucos minutos na tela. Gostaria de citar todos eles, tamanho é estado de graça desse elenco, principalmente as atrizes. Brilhante. Brilhante. Brilhante. O Oscar quer premiar os melhores, mas nem sempre é assim: às vezes por que não é, e outras vezes porque achamos que não é. Então, que seja o que Deus quiser.



Histórias Cruzadas começou a me fazer chorar desde os trinta minutos finais, e a intenção não é criar uma obra melancólica e pesada, em que o espectador se vê atirado e desolado com sua bestialidade humanitária, mas sim, criar uma obra tecnicamente leve, buscar no espectador o fio que o conecta a humanidade e acender as luzes de seu bom senso, criar reflexão baseada em lágrimas de constrangimento e sorrisos engolidos até a hora do jantar.